Ontem, sexta-feira, estava dentro de um ônibus da linha 9202, indo em direção ao centro, quando um passageiro me chama à atenção. O coletivo estava cheio, lotado, portanto, não pude ver logo de cara quem era essa pessoa, mas pude ouvir um ruído agonizante, alto, que saía de sua boca. Pessoas levantavam pra ver do que se tratava tanto sofrimento e, só depois de alguns minutos, os passageiros do fundo, local onde eu estava, puderam descobrir. Tratava- se de um doente mental, cuja deficiência o impedia de falar e andar corretamente. Tá, mas e daí? Do trajeto da roleta até a porta traseira, minha atenção se desvia do passageiro em si, para a reação dos demais.
-“O cara ta falando árabe”, fala um sujeito para a pessoa ao lado.
O que estava ao meu lado ri e diz:
-“Hahaha, o cara ali falou que ele ta falando árabe, é o Saddam Hussein.”
A passageira ao lado dele demonstra um sorriso discreto e balança a cabeça, meio que confirmando o que ele disse. Quando “Saddam Hussein” se aproxima, vejo que ele pede dinheiro aos passageiros. Estende a mão para uma mulher, que o ignora, mantendo o olhar fixo na rua. Passa a mão diante dos rostos de todos os passageiros do banco de trás, inclusive o meu e, o mesmo cara que o apelidou de “Saddam”, tira algumas moedas do bolso e diz:
-“Toma aqui Saddam”, e despeja as moedas em sua mão.